As aves estão presentes em nossas vidas desde tempos remotos. Para os nossos antepassados elas representavam objetos de superstição ou adoração religiosa, eram utilizadas como ornamentos, decoração ou simplesmente consideradas uma boa refeição! Há diversas referências a elas na literatura e cultura antiga, porém, a atividade de observação de aves como recreação, realizada pura e simplesmente por prazer, também conhecida como birdwatching, data da metade do século XVIII, na Inglaterra, quando Gilbert White e seus três companheiros, Thomas Bewick, George Montagu e John Clare, encontram a conexão entre homem e natureza, em um momento em que começava a ocorrer um distanciamento entre humanos e o mundo natural.
A partir de então, não apenas a atividade de observação de aves como também estudos científicos a seu respeito ganharam força e passaram a ser mais estruturados.
Nos dias de hoje as atividades ambientais tem despertado o interesse da população, sendo procuradas devido aos inúmeros atrativos que proporcionam, como o aumento da consciência da importância da preservação dos recursos naturais, a necessidade psicológica das pessoas de encontrarem alternativas de lazer diferentes das praticadas nos grandes centros urbanos, maior aproximação com as formas simples de vida em contraposição à complexidade da vida moderna e a busca por melhor qualidade de vida.

O birdwatching é uma dessas atividades e tem se mostrado uma ferramenta eficiente para a conscientização da população e divulgação da temática ambiental, promovendo aos praticantes além do prazer de realizar uma atividade de lazer e descontração, recompensas intelectuais, recreativas e científicas. É ainda uma atividade que envolve o praticante não apenas no momento em que ocorre, mas que perdura posteriormente, à medida que induz a busca por mais informações, como a identificação da espécie encontrada e seus hábitos.
Grandes eventos envolvendo os amantes de aves são realizados no mundo todo, como o Christmas Bird Count (Contagem de Aves no Natal), que acontece nos Estados Unidos desde o começo do século XX e teve início quando um ornitólogo sugeriu a atividade de observação ao invés da tradicional caça de aves que costumava acontecer nesse data. Um outro exemplo de evento voltado para essa prática é o Global Big Day (Grande Dia Global), que no Brasil recebe o nome de Big Day Brasil, e que além do novo nome ganhou também uma data diferente da utilizada no hemisfério norte, uma vez que a atividade das aves é diferente de acordo com as estações do ano. Nesses dias específicos as pessoas saem em busca do maior número de aves que possam encontrar!
Tais iniciativas mobilizam milhares de pessoas para um único fim: a observação de aves. Ao elaborarem listas e registrarem informações diversas, os praticantes contribuem com o conhecimento sobre as espécies, sendo possível surgirem registros de novas ocorrências ou ainda importantes informações sobre espécies ameaçadas de extinção, raras e endêmicas, muitas vezes registradas através de fotos ou gravações da vocalização. Este material pode ainda ser submetido à aplicativos ou websites, criando um vasto banco de dados que vem a contribuir em questões científicas, como pesquisas, conservação e educação.
E não é preciso muito para se aventurar nessa atividade. Jardins, praças, parques e até ruas mais arborizadas são excelentes palcos para desfrutar da companhia das aves. Equipamentos também não são essenciais, uma vez que muitas estão acostumadas à interação com o homem e permitem a aproximação. Porém, caso haja o interesse em identificar mais detalhes dos indivíduos que estão a maiores distâncias, o uso de binóculos se faz necessário. Fotografar também é um recurso que vem sendo muito utilizado, à medida que é possível guardar os registros dos animais encontrados, como um álbum de figurinhas.
E é possível praticar birdwatching mesmo nesse momento delicado em que passamos, onde o isolamento social se faz necessário, basta apenas uma pequena varanda ou até mesmo uma janela! Quem sabe a redução do movimento de pessoas e veículos nas ruas não acabe por permitir que as aves as ocupem e se tornem mais visíveis? Uma coisa é certa, menos movimento significa menos ruído, portanto seus cantos estarão mais evidentes, basta prestarmos atenção.
Autor: Ariela Castelli Celeste
Referências: MOSS, Stephen. A Bird in the Bush – a social history of birdwatching. Londres: Aurum Press Ltd, 2004.
Dias R. A biodiversidade como atrativo turístico: o caso do Turismo de Observação de Aves no município de Ubatuba (SP). Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.4, n.1, 2011, pp. 111-122.
T. Práticas e técnicas de observação da natureza. 1ª edição. Vinhedo: Avis Brasilis, 2014. 228p. Vinhedo: Avis Brasilis, 2014. 228p.