As serpentes são animais vertebrados que pertencem ao grupo dos répteis. Sendo assim, seus parentes mais próximos são os lagartos, jacarés, tartarugas, e (sim!) as aves.

Em Centros de Triagem de Animais Silvestres, chegam serpentes em variados estados e por motivos diferentes, sendo pelo fato de que uma entrou na casa de alguém e chamaram bombeiros para retirar, ou foi resgatada ferida após alguém tentar matá-las a pauladas, ou sendo pelo tráfico ilegal onde as pessoas estão transportando esses animais, em condições horríveis, sem licença do IBAMA e são apreendidos pela fiscalização. Com isto, os CETAS precisam estar preparados, com equipamento e locais adequados, para receber esses animais.
E por se tratar de répteis, requerem alguns cuidados e atenções especiais.

Cuidados corretos
TEMPERATURA E AQUECIMENTO ARTIFICIAL
Esse grupo de animais são ectotérmicos, ou seja, seus organismos não conseguem controlar a temperatura de seus corpos e esta varia de acordo com a temperatura do ambiente. Diante disso, em cativeiro as serpentes necessitam de uma fonte externa de calor para regularem seus organismos, e esta deve ser oferecida através de equipamentos de aquecimento artificial como pedras, placas e lâmpadas aquecedoras.
ALIMENTAÇÃO
De modo geral as serpentes são predadoras carnívoras, mas suas dietas podem variar de acordo com cada espécie, desde aves, mamíferos, outros répteis (inclusive até outras serpentes!), anfíbios, moluscos, peixes e ovos. Em cativeiro, a melhor opção é a oferta de roedores abatidos e previamente congelados. Não é recomendado oferecer presas vivas, diante da Bioética e devido ao fato de que em muitos casos a própria presa pode machucar, e às vezes até matar, a serpente. Observar o tamanho e peso de animal também é essencial para determinar o tamanho e quantidade de alimento que será oferecido.
Um dos desafios encontrados no CETAS BH perante alimentação são os casos especiais onde serpentes com dietas mais diferenciadas recusam roedores abatidos, como é o exemplo das Boipevas (Xenodon merremii – serpentes que se alimentam de anfíbios) e das Jararaquinhas-dormideiras (Dipsas [Sibynomorphus] mikanii – serpentes que se alimentam de moluscos).
RECINTO E LIMPEZA
Para um recinto ideal deve-se levar em consideração o tamanho do animal, e seus hábitos para introduzir os elementos necessários. Os elementos básicos são: um substrato base, onde muitas vezes é utilizado jornal por não ser tóxico aos animais e facilidade de limpeza; uma tigela acessível de água limpa, para beberem e auxiliar na umidade do recinto, importante para a troca de pele; um esconderijo/toca, para que o animal possa ter a escolha de se esconder e repousar em um local que ele julga mais seguro, fora da vista de “predadores”, o que evita o estresse. No mais, galhos, folhas, feno e rochas podem ser acrescentados de acordo com os hábitos de vida (serpentes arborícolas se sentirão mais a vontade se tiver galhos para escalar, por exemplo) e necessidade física (em época de troca de pele elas buscam superfícies ásperas para se esfregarem, como em rochas, para se livrarem mais facilmente da pele antiga) da serpente.
A limpeza é feita semanalmente, e devem ser observadas quaisquer anormalidades nas fezes e presença de regurgito de alimento, e se o recinto se encontra sempre devidamente ventilado, para evitar o aumento da umidade excessiva e proliferação de fungos, e devidamente fechado, para evitar fugas.

Atenções Especiais
DEFESA E SEGURANÇA
Para se defenderem, serpentes utilizam diferentes mecanismos de aviso e ataque, tais como sibilos, balançar da cauda, regurgitar o alimento, jatos de fezes e outras substâncias de mau cheiro, e o famoso bote.
No manejo, é importante saber lidar com esses comportamentos e mecanismos defensivos, garantindo maior segurança para o profissional e para o animal. Mesmo a serpente não sendo peçonhenta, uma mordida pode ocasionar um ferimento sério.
EQUIPAMENTOS DE MANEJO, CONTENÇÃO E SEGURANÇA PESSOAL (EPIs)
Para os equipamentos de manejo e contenção existem os ganchos herpetológicos, pinção, laço de lutz, tubos, sacos e caixas de contenção e transporte, e pinças (para a alimentação). Para utilizá-los deve sempre levar em consideração a espécie da serpente e seu tamanho. Alguns equipamentos requerem mais habilidade que outros, como o pinção, laço de lutz e tubo de contenção, onde se manuseado de maneira errada o animal pode sofrer de ferimentos graves e alto nível de estresse, além do risco de acidente para quem está manejando.
Já para os equipamentos de segurança pessoal, mais conhecidos como EPIs (Equipamento de Proteção Individual), existem as luvas cirúrgicas (para evitar patógenos), óculos, perneiras ou galochas, calça e sapatos fechados.
Todo cuidado é pouco com animais silvestres e, além disso, deve-se sempre prezar o bem estar do animal. Seguindo todas as medidas e orientações, o manejo dos animais é feito de maneira mais correta e sem muito estresse, possibilitando que o animal tenha uma boa passagem pelo CETAS BH antes de seguir caminho para seu local de destinação, seja ele um criadouro científico para fins de conservação ou a natureza.
As serpentes são animais rodeados de mitos que causam medo e repúdio, mas são animais pacíficos que apenas tentam se defender com os recursos que tem em situações que se sentem ameaçadas. Acidentes podem acontecer com pessoas desavisadas, sem proteção e preparação para lidar com o animal sem que o machuque. Elas possuem uma enorme importância ecológica para o meio ambiente, controlando populações de roedores, sapos, aranhas e lesmas, que podem ser considerados pragas ocasionalmente, além de elas próprias servirem de alimento para outros predadores.
São animais majestosos e que devem ser alvo de conservação como qualquer outro, pois cada um cumpre um papel na natureza e assim mantém-se o equilíbrio da teia da vida!
Autora: Thalia Kethelen Ferreira
Referências:
MARQUES, O. A. V., MEDEIROS, C. R.. Nossas Incríveis Serpentes: Caracterização, Biologia, Acidentes e Conservação. 2019.
MELGAREJO-GIMÉNEZ, A. R. Criação e manejo de serpentes. SciELO Livros.