“Cuida bem do meu filho”, “É como um membro da família”. Essas são frases que nós costumamos escutar muito quando pessoas se referem a algum pet ou animal silvestre criado em cativeiro.
Esse é um assunto polêmico, onde a diferenciação no tratamento dos animais pode trazer grandes consequências não só para eles, mas também para a gente. O risco de transmissão de doenças é muito maior quando o animal vive diariamente no mesmo ambiente que as pessoas. Além disso, o animal pode desenvolver distúrbios no comportamento, principalmente quando são espécies sociáveis, e acabam se identificando com seus donos.
Quando se trata de animais silvestres, temos outro ponto chave na questão da humanização: a reintrodução desses indivíduos na natureza. O animal humanizado tem dificuldades imensamente maiores para se adaptar ao novo estilo de vida para ser livre.

Um dos maiores exemplos que temos, quando se trata de domesticação e humanização de animais silvestres, são os macacos-pregos. Por serem animais carismáticos, habilidosos e socializáveis, esses animais ganham muita atenção, mas a domesticação de primatas pode oferecer muitos riscos.
A raiva, febre hemorrágica, hepatites, herpes símia (B), tétano, amebíase e tuberculose, são exemplos de doenças que, ao compartilhar do mesmo ambiente diariamente com primatas, podem ser transmitidas para a gente, assim como, esses animais também podem se infectar com doenças transmitidas por nós.
Normalmente as pessoas pegam o primata quando ainda é filhote e começam sua domesticação nessa fase, quando o animal ainda é dócil e carinhoso. Mas à medida que o animal vai crescendo e atinge a puberdade, os primatas começam a demonstrar temperamentos difíceis, tornado-se agressivos e possessivos. Por não conseguir lidar com esse novo comportamento arredio, os macacos então perdem seu encanto e doçura, e muitos de seus donos procuram entregar o animal, ou pior, fazem a soltura indevida do animal na natureza.

Outro grande exemplo são os papagaios, que geralmente são retirados do ninho ainda filhotes, sem nunca terem contato com outros indivíduos da mesma espécie. São então criados por humanos, comendo biscoito, pão, café e aprendendo a imitar falas e até imitando sons de carros e campainha.
Esses animais chegam aos Centros de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres completamente humanizados. Com dietas desequilibradas e impróprias, cantando ao invés de vocalizar, usando roupas ou até mesmo fraldas e acostumados com o contato humano.
A personalidade desses animais pode influenciar seus comportamentos de sobrevivência e reprodução na natureza, afetando sua noção de perigo, da presença de predadores; causando falta de agressividade, sociabilidade com outros indivíduos da mesma espécie e capacidade de buscar comida e se alimentar sozinho.

Mas isso não significa que ele não irá conseguir voltar para a natureza!!
Existem técnicas para manejar esses animais, a fim de garantir que ele volte a expressar seus comportamentos naturais! Ao ser reabilitado, a primeira medida a ser tomada é evitar ao máximo o contato humano, colocando-o próximo a indivíduos da mesma espécie, para um período de adaptação. Em seguida, quando o animal estiver mais tranquilo, é colocado em contato com outros para tentar socializar. São realizados também diversos tipos de enriquecimentos ambientais, para estimular a busca de alimento e melhorar suas habilidades cognitivas.
Outra técnica muito interessante que é utilizada na reintrodução de animais na natureza é o treinamento anti-predação, fazendo com que aprendam a ter medo e fugir de seus predadores. Um bom exemplo disso é observado no PROJETO VOAR realizado pelo Waita, no qual, vários papagaios domesticados foram reintroduzidos na natureza e monitorados para avaliar seu desempenho em vida livre. O projeto rendeu resultados maravilhosos! Para saber mais sobre o projeto e ler os artigos produzidos você pode acessar o Projeto Voar no nosso site!
Autora: Inaiá Ramirez Tupinambás
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO ANIMAL CARE. Os perigos causados pela domesticação do Macaco-prego. Disponível em: https://associacaoanimalcare.com.br/domesticacao-macaco-prego/>. Acesso em 29 set de 2020.BRAGA, ERNESTO. Papagaios domesticados são devolvidos ao habitat para preservação da espécie. Disponível em:. Acesso em 29 set de 2020.LOPES, ALICE R.S. et al. The influence of anti-predator training, personality and sex in the behavior, dispersion and survival rates of translocated captive-raised parrots. Global ecology and conservation. Belo Horizonte, p. 146-157, 2017.