Psitacídeos são vítimas de diversos fatores durante o seu comércio ilegal que os deixam imunossuprimidos e, consequentemente, propícios às enfermidades fúngicas.
Dos 38 milhões de animais silvestres que são retirados da natureza anualmente no Brasil, a maioria são aves, e os psitacídeos estão entre os principais grupos alvo. O índice de mortalidade é alto devido ao manejo inadequado (o que inclui má alimentação e higiene) e estresse durante a captura, comercialização e criação ilegal. Quando sobrevivem, acabam adquirindo com isso queda de resistência imunológica, o que pode resultar no desenvolvimento de doenças, incluindo as micoses.

As infecções oportunistas por fungos ocorrem principalmente em casos de animais imunodeprimidos, sendo que a sua principal forma de contágio é por inalação. Fatores relacionados também com o desenvolvimento fúngico são as alterações climáticas, falta de higiene e alta densidade populacional no cativeiro.
São diversas as enfermidades provocadas por fungos que podem acometer os psitacídeos, porém aqui iremos falar somente de duas delas que são bastante comuns: aspergilose e candidose.

Aspergilose
Aspergilose é uma infecção provocada pela espécie Aspergillus spp., fungos filamentosos que afetam o trato respiratório das aves. Entretanto, é possível também encontrar esses agentes no sistema nervoso central, olhos e sistema digestivo. Ela ocorre, geralmente, através da inalação de conídeos (propágulos assexuados globosos e equinulados) liberados no ambiente.
Tal doença é mais recorrente em psitacídeos jovens e/ou imunocomprometidos, resultando em elevada morbidade e mortalidade dos indivíduos, sendo essa manifestação considerada aguda. As espécies mais comuns de Aspergillus encontradas na maioria dos surtos são: A. fumigatus e A. flavus. Outra forma de manifestação do fungo é a crônica, presente normalmente em aves adultas. Ambas as formas de aparição de tal enfermidade não são contagiosas, nem capazes de se transmitirem de um animal a outro.
Segundo o estudo de Marcelo Fraga feito no CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres) do Rio de Janeiro, em 2011, em que foram analisadas nove espécies diferentes de psitacídeos, por quatro meses, as Maritacas foram as que apresentaram a maior quantidade de animais de uma mesma espécie com resultado positivo para Aspergillus.
Quando apresentados os sintomas, esses incluem problemas respiratórios como rinite (dificuldade para respirar, abertura frequente do bico e respiração muito ruidosa), mudanças na vocalização e movimento da cauda acompanhando a respiração. Em caso de manifestação na forma ocular, o animal apresenta irritação nos olhos, inchaço e lacrimejo. Com o tempo podem aparecer pontos brancos que, com o seu avanço, podem acabar provocando a perda de visão. Além disso, há letargia, perda de peso, dispnéia e obstrução parcial ou total do lúmen respiratório.
Candidose
Candidose é uma infecção provocada pelo fungo do gênero Candida, um tipo de levedura que comumente apresenta uma relação de comensalismo com os animais. A doença é desencadeada em casos de desequilíbrio da flora corpórea da ave, assim como ocorrem nos casos de imunodepressão, más condições de manejo e higiene. A doença também tem como alvo os psitacídeos jovens.
Tal enfermidade é provocada com maior frequência pela Candida albicans e se caracteriza pelo engrossamento de tecidos do papo e pró-ventrículo que acabam por ficar esbranquiçados. Além disso, ocorrem lesões pelo trato digestivo e ulcerativas no intestino da ave. Diante disso, o indivíduo pode apresentar apatia, diarréia e regurgitação.
Animais com acometimento do bico e/ou boca apresentam placas brancas, muco e mau hálito e, em casos de acometimento do sistema digestório, a doença pode vir a se espalhar pelos olhos, sistema reprodutivo, sistema urinário e se tornar sistêmica em situações mais graves.
Micoses em psitacídeos jovens
Ao longo do que foi falado, foi possível ver que, geralmente, os psitacídeos jovens são mais susceptíveis às infecções micóticas independentemente da imunodepressão.
Os psitacídeos jovens são aves com sistema imune imaturo e microbiota gastrointestinal em processo de formação, o que explica essa susceptibilidade. Pelo mesmo motivo, é necessária a identificação do fungo e tratamento rápido dos indivíduos infectados.

Em 2009, Vieira e Coutinho realizaram um estudo com 40 filhotes de papagaio do gênero Amazona apreendidos pelo tráfico de animais silvestres, sendo as espécies: A. aestiva e A. amazonica. Como resultado, identificaram 25 cepas de Candida spp.: 60% estavam presentes em aves imunossuprimidas e os outros 40% em aves não imunossuprimidas, o que provou que psitacídeos filhotes imunodeprimidos apresentam maior propensão em adquirir fungos.
Autora: Júlia Olbrisch Ferraz
Referências
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