O PAPEL DOS BEIJA-FLORES NO NOSSO ECOSSISTEMA

Quem nunca viu beija-flores pairando sobre uma flor ou voando rapidamente nas nossas ruas? No movimentado dia-a-dia é difícil parar para observar estas lindas e velozes aves que nos cercam. Esses pequenos se aproveitam bastante do néctar (líquido adocicado produzido por muitas plantas) das escassas flores disponíveis nas grandes cidades brasileiras. Esta interação entre planta e animal favorece ambos: o beija-flor ganha alimento e a planta ganha o pólen de outro indivíduo, garantindo sua reprodução. Muitas plantas podem ser cultivadas em casa ou nos passeios a fim de atrair essas belas aves, vejam mais abaixo:

Os nossos beija-flores

No Brasil há 1901 espécies de aves. Destas, 83 são beija-flores segundo a última edição do livro “Lista de aves do Brasil” publicado pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. O livro pode ser baixado gratuitamente no site dele (http://www.cbro.org.br/lista.htm). Essas aves são conhecidas pelo rápido metabolismo e o bater de asas dezenas de vezes por segundo. Isso demanda uma grande quantidade de energia, fazendo com que eles tenham que procurar por alimento várias vezes ao dia.

Uma curiosidade deles é que suas majestosas cores se devem não à pigmentação, mas sim à difração da luz em suas penas. Os machos geralmente são mais coloridos que as fêmeas, pois disputam entre si por elas. Entretanto, as fêmeas muitas vezes são menos chamativas porque isso seria uma desvantagem evolutiva atrapalhando sua camuflagem ao chocar os ovos e cuidar dos filhotes. As fêmeas constroem compactos ninhos utilizando folhas, liquens, penas, teias de aranha e outros materiais.

Entre os beija-flores mais comuns do Brasil estão o Beija-flor-tesoura, de nome científico Eupetomena macroura e o Besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus) que são muito frequentes nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste. Eles são vistos até mesmo nas cidades mais urbanizadas, pois não exigem condições ambientais tão preservadas. O Beija-flor-tesoura é maior, medindo até 19 centímetros e é bem agressivo, normalmente domina aqueles bebedouros artificiais e outras fontes de alimento, como árvores em floração. Já o Besourinho-de-bico-vermelho é menor que esse, medindo cerca de 10 cm e não é tão agressivo quanto o tesoura.

Beija-flor-tesoura
Beija-flor-tesoura
Foto: Eden Fontes, 2014
Besourinho-de-bico-vermelho
Besourinho-de-bico-vermelho
Foto: Gra-moll, 2019

Mas nem tudo são flores. Infelizmente existem muitas espécies de beija-flores ameaçadas de extinção. Uma delas é o Beija-Flor-de-Gravata-Vermelha (Augastes lumachella). Esta espécie pouco conhecida ocorre apenas no Brasil, ou seja, é endêmica daqui, habitando somente o estado da Bahia em regiões altas da Caatinga e está classificada na categoria Em Perigo (EN) segundo o terceiro volume do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Os motivos de ameaça são incêndios, turismo desordenado e destruição da vegetação para produção de carvão e pasto.

Beija-Flor-de-Gravata-Vermelha
Beija-Flor-de-Gravata-Vermelha
Foto: Norton Santos, 2020

O serviço dos beija-flores no ecossistema

Quase sempre que vemos algum beija-flor, percebemos que ele está parado à frente de uma flor. Com seu nome sugestivo e seu metabolismo rápido altamente dependente de açúcar, eles se aproximam desta estrutura reprodutiva das plantas e suga o néctar com seu longo bico. Com isso, a planta passa seu pólen (produzido nas suas estruturas masculinas chamadas de anteras) para o corpo do beija-flor que acabará sendo recebido pela estrutura feminina de outra planta, o pistilo, fecundando-a.

Essa relação selecionou evolutivamente aqueles beija-flores que tinham o hábito de forragear (procurar por alimento) as flores e também os que tinham bicos e línguas mais longos e finos para adentrar as estruturas florais. Ao mesmo tempo em que selecionou as plantas que produziam mais néctar, mais pólen e flores mais chamativas em um fenômeno chamado de co-evolução. Isso fez com que muitas plantas ficassem dependentes da polinização por beija-flores e eles dependentes do néctar produzidos por elas.

Saiba como atraí-los 

Mesmo sendo um pouco difíceis de ver, existem maneiras de trazer estes lindos animais para mais perto de nós. Uma das opções é aquele bebedouro de plástico com flores artificiais. Porém, existem outras opções mais naturais para quem quer uma experiência mais ecológica.

No livro “Plantas que atraem aves e outros bichos” disponível pela UNESP de forma gratuita aqui (https://repositorio.unesp.br/handle/11449/126246) há vários exemplos:

Ipê-roxo-bola (floresce em Maio, Junho e Julho);
Ipê-amarelo (floresce em Agosto e Setembro);
Paineira (floresce em Março e Abril);
Imbiriçu-do-cerrado (floresce em Junho, Julho e Agosto);
Árvores menores (até 6 metros):
Rabo-de-cotia (floresce em Maio, Junho e Julho);
Mulungu-da-praia (floresce em Junho, Julho e Agosto);
Caliandra (floresce em Junho, Julho e Agosto);
Helicônia-papagaio (floresce em Maio, Junho e Julho);
Fruta-do-sabiá (floresce em Setembro, Outubro e Novembro);

Muitos beija-flores especialistas dependem de grupos de plantas e condições ambientais mais restritas para sobreviver, como em vegetação preservadas, ao contrário de outros que são mais generalistas, vivendo até mesmo em grandes cidades. Isso faz com que estes primeiros sejam vulneráveis à extinção. Por isso, a preservação dos nossos biomas é importante para garantir a sobrevivência de inúmeras espécies e relações ecológicas.

Autor: Kleber Felipe Alves da Silva

Referências:

COMITÊ BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS. Listas das aves do Brasil. 11ª ed. São Paulo: CRBO, 2014. 42p.
MACHADO, C.G. et al. Augastes lumachella (Lesson, 1838). In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira meaçada de Extinção: Volume III – Aves. Brasília: ICMBio. p. 215-217, 2018.

NISHIDA, S. M.; NAIDE, S. S.; PAGNIN, D. Plantas que atraem aves e outros bichos. 1. ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2014. (Coleção PROEX Digital-UNESP). ISBN 9788579835391. Disponível em: .