Define-se como antrozoologia a relação do ser humano com os animais que, ao longo dos séculos, passou por drásticas modificações. Ainda na Eurásia o processo de domesticação inicia-se com os cães e posteriormente com porcos e cabras e assim sucessivamente com outras espécies. O que devemos levar em consideração são as modificações que nós implicamos para os demais animais, tais como o surgimento de raças e outras adaptações fisio-morfológicas que podem alterar completamente o comportamento animal.

Somente para o entendimento deste texto, sugiro uma reflexão sobre raças de cães que foram modificadas com o passar do tempo e hoje, apresentam dificuldades respiratórias, atrofias coxo-femorais, maior propensão a cânceres e dermatites e outros vários problemas que são facilmente encontrados na literatura. Porém voltando ao tema central do nosso trabalho: os animais silvestres não são ainda mais prejudicados quando impostos a essa relação com o ser humano?
A natureza segue um ciclo natural e as diversas espécies se modificam de modo a promover sucesso reprodutivo, alimentar e cognitivo à medida que são impostos desafios. O animal em cativeiro, geralmente, é desprovido de estímulos e acostuma-se com receber o alimento e não ter um parceiro ou nem ao menos precisar procurar por um. Isso pode ocasionar em uma série de distúrbios comportamentais que favorece o estresse que pode favorecer o arrancamento de pena em aves, por exemplo, alterações funcionais que podem tornar os animais enfraquecidos e sem habilidade físicas e psicológicas necessárias a sobrevivência. O contato direto com o ser humano até mesmo em nosso trabalho de reabilitação e reintrodução deve ser extremamente criterioso.

Após a soltura de espécies, temos que garantir que esses animais não tenham sido contaminados por nenhuma doença humana, que estejam aptos a buscar alimento, que não se sintam confortáveis na presença humana. Um estudo recente, publicado no Jornal Royal Society Open Science, observou que ratos selvagens que passaram a ter contato frequente com humanos, no período de uma década, passaram a apresentar mudanças na coloração da pelagem e encurtamento do focinho. Ao que tudo indica, o processo de domesticação faz com que as glândulas suprarrenais encolham. Como estas estão envolvidas na secreção hormonal em resposta ao estresse e adrenalina, os animais passam a ser mais dóceis. Da mesma forma, a crista neural (conjunto de células embrionárias) é responsável pela formação de cartilagem, esmalte de revestimento dos dentes, melanócitos etc e pode estar sofrendo modificações em tamanho e estrutura devido aos processos de domesticação.
Com esse texto, viso somente suscitar a curiosidade e atenção dos leitores com relação ao nível de proximidade entre humanos e demais animais, ciente de que o tema é amplo e ainda há muito o que ser debatido. Até que ponto nossa aproximação é benéfica? Será que vale a pena ter um animal selvagem a todo custo por simples capricho? O que nossas ações estão provocando a nível mutacional nos demais seres vivos?
Autora: Laryssa Henriques
Referências
ORSINI, H.; BONDAN, E.F. Fisiopatologia do estresse em animais selvagens em cativeiro e suas implicações no comportamento e bem-estar animal – revisão da literatura. Rev Inst Ciênc Saúde, São Paulo. v. 24, p.7-13, 2006.
Jornal Royal Society Open Science